Wednesday, March 21, 2007

Janas,Fadas,Elfos e Sereias

Também se encontra, em Portugal e Galiza, o nome de xaira. Há, perto de Bragança, Portugal, uma localidade chamada Curriça (estábulo) das Xairas. Talvez uma variante do nome árabe Zaira (Zahirah, rosa), relacionado a uma obscura santa espanhola ou às "mouras encantadas" do folclore português.

Supostamente são jovens muçulmanas enfeitiçadas para guardar os tesouros abandonados pelos mouros expulsos da Península Ibérica. Aparecem junto de nascentes, rios, grutas, ruínas de fortalezas pré-históricas conhecidas como "castros" ou "citânias". Não é preciso dizer que túmulos pré-históricos como os dólmens (comuns em Portugal, onde são chamados antas, palas, orcas ou arcas) são também chamados de "casa da moura" ou "toca da moura".

Vistas a cantar e se pentear com pentes de ouro, as mouras prometem seus tesouros a jovens dispostos a desencantá-las com certas oferendas (geralmente de pão ou leite), de preferência no dia de São João. Vale notar que, em tempos pagãos, pão era oferecido aos mortos e leite às fontes e às serpentes. Às vezes, as mouras tomam a forma de mulher-serpente ou têm asas e vivem em um lugar mítico conhecido como "mourama".

Tudo isto parece ter muito pouco a ver com os mouros históricos - mesmo que se queira pensar nas gênias das Mil e Uma Noites. Será que os portugueses, depois de expulsarem os mouros propriamente ditos, não confundiram seu nome com o de entidades muito mais antigas? No folclore basco, há a já mencionada Mari e os Mairu, gigantes que construíram os dólmens e outros monumentos pré-históricos. Nas línguas celtas, mori pode ser lago, mar ou pântano, morwen ou mahra, espírito e mori-morwen, um espírito das águas análogo às janas. Nas ilhas Britânicas, nomes como Muir, Mor, Mhor, More e mesmo Moor (que pode também significar "mouro"), cognatos do celta mori, estão freqüentemente associados a monumentos megalíticos.

Seria ainda mais interessante se "mouras" fossem, na verdade, descendentes das Moiras da mitologia grega - Cloto, Láquesis e Átropos, as deusas do destino, temidas pelos próprios olímpicos, que fiam com sua roca a vida dos mortais, medem-na com uma régua e decidem seu fim com a tesoura, assim como faziam suas equivalentes nórdicas, as Nornas. Eram conhecidas pelos romanos como Parcas ou Fatas - ou seja, as Fadas - e apareciam no terceiro dia do nascimento de uma criança para determinar o curso de sua vida. Assim como as simpáticas fadas-madrinhas da Bela Adormecida e dos "contos de fadas", prontas a conduzir os personagens a seus destinos apropriados - ou, como diriam os lusos, a seu "fado".

Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa

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