Sunday, December 11, 2005

vino y aceite

Santos Otero: «El amor espiritual es vino y bálsamo. De él gozan los que dejan ungir con él, pero también aquellos que son ajenos a éstos, con tal de que los ungidos continúen (a su lado). En el momento en que los que fueron ungidos con bálsamo dejan de (ungirse) y se marchan, quedan despidiendo de nuevo mal olor los no ungidos que tan sólo estaban junto a ellos. El samaritano no proporcionó al herido más que vino y aceite. Esto no es otra cosa que la unción. Y (así) curó las heridas, pues el amor cubre multitud de pecados.»

Magdalena

Martim de Castro do Rio, s.d. (XVI)
Magdalena de amor toda roubada
Confusa, triste, só, sem lus, sem guia
Busca fora de sy, quem nella hia
Com passos desiguaes, e alma abrazada

Não teme a noute, as guardas, a jornada
Porque não tinha vista nem sentia
Que o coração, seu mestre o possuhia
E os olhos sem o ver, não viao nada

Chorando chega emfim onde dezeja
Vazio acha o sepulchro, de Anjos cheyo
Que o lugar de Jesu so elle o peja

Mas como de o achar o melhor meyo
São Lágrimas de Amor,quer Deos que seja
Nelas viuo, quem morto buscar veyo.

Pistis Sophia

I. P. Couliano: «Le mythe gnostique de Sophia est, si possible, encore plus patriarcal que le mythe biblique de la chute. Aucun rapport ne semble exister entre lui et cette position particulière que certains textes gnostiques réservent à Marie-Madeleine, l’initiée par excellence.» Segundo Ireneu :«Al no poder rebasar el Límite, por estar entrelazada con la pasión, y al quedar abandonada sola en el exterior, cayó en toda clase de pasión multiforme y variada. Padeció tristeza , porque no había compreendido; temor de perder la vida como había perdido la luz; e además perplejidad. Todo esto lo sufrió en ignorancia. Y no le acaeció, como a su madre, la primera Sabiduría y éon, sufrir alteración con estas pasiones, sino contrariedad. Mas le sobrevino también una disposición distinta, la conversión al dador de vida. Tal fué, según enseñan, la constitución en su substancia de la materia, de la que provino este mundo. En la conversión tiene su origen toda el alma del mundo y la del Demiurgo, las démas cosas recibieron su principio del temor y de la tristeza. De las lagrimas de aquélla provino toda la substancia húmeda, de su risa la substancia luminosa, de la tristeza y el estupor los elementos corporales del mundo. Pues a veces lloraba y se acongojaba, según dícen, por haber sido abandonada sola en la oscuridad y en el vacío, a veces daba en pensar en la luz que la habia abandonado y entonces cobrava ánimos y reía, para volver luego a sus temores y quedar de nuevo sumida en consternación y estupor O papel central dos “arrependimentos” no processo de salvação de Pistis Sophia torna-se claro quando se verifica que o termo original traduzido por arrependimento vem da palavra grega metanoia, termo que originalmente significava mudança de estado mental ou dos conteúdos mentais que, por sua vez, leva ao arrependimento. Portanto, o longo processo de salvação de Pistis Sophia é a progressiva transformação dos estados mentais do homem, que possibilita sua libertação do caos, que ocorre simultaneamente com a apoteótica ascensão de Jesus ao Alto. Assim, a salvação da natureza inferior do homem é coincidente com a glorificação de sua natureza superior, simbolizada pelo Mestre. As diferentes etapas da salvação de P.S. são apresentadas em correspondência com as cinco grandes Iniciações, indicando as expansões de consciência por que passa a alma, incluindo sua iluminação e a dolorosa ‘noite escura da alma’, até sua libertação final da matéria. Curiosamente, essa fórmula para a libertação, a transformação da mente, é a mesma exposta na doutrina budista, indicando que os ensinamentos esotéricos dos grandes Mestres parecem originar-se de uma fonte única de sabedoria.

Friday, December 09, 2005

Uma criança disse:


Uma criança disse:
"um anjo é uma gaivota."
"Um anjo é um homem como os outros: o que é tem asas."

E outras:
"Um anjo é um pássaro cantador."
"Um anjo é uma andorinha. Tem uma coroa."
"Um anjo é um homem que tem o sol pendurado atrás da cabeça."
E uma outra sonhou que tinha engolido o sol.

Crianças trespassadas pela sua própria exactidão.

Crianças são as letras antigas com que se escreve a única palavra insuportavelmente viva.

Crianças são o instante onde
as liras e os dedos são uma única rosa.

( Herberto Helder )

ÍNDIOS NORTE AMERICANOS











Os dois Lobos
Um ancião índio descreveu os seus conflitos internos da seguinte maneira:- Dentro de mim tenho dois lobos. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom. Os dois lobos estão sempre à briga.Quando lhe perguntaram qual o lobo que ganhava a briga, o ancião respondeu: - Aquele que eu alimentar.
Lenda Sioux da Águia e do Falcão!
Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo ... - Nós nos amamos... e vamos nos casar - disse o jovem.- E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:- Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada...Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte e traze-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo - continuou o feiticeiro - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva! Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... no dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos... e viu eram verdadeiramente formosos exemplares...- E agora o que faremos? - perguntou o jovem - as matamos e depois bebemos a honra de seu sangue? Ou cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? - propôs a jovem.- Não! - disse o feiticeiro, apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... quando as tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres...O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros... a águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do voo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.E o velho disse: Jamais esqueçam o que estão vendo... este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure...Voem juntos mas jamais amarrados".

LENDA DA TORRE DA PRINCESA












Quando a cidade de Bragança era ainda a aldeia da Benquerença, existia uma princesa bela e órfã que vivia com o seu tio, o senhor do Castelo. A princesa tinha-se apaixonado por um jovem nobre e valoroso mas pobre, que também a amava, e que tinha partido para procurar fortuna, prometendo só voltar quando se achasse digno de a pedir em casamento. Durante muitos anos a princesa recusou todas as propostas de casamento até que o tio resolveu forçá-la a casar-se com um nobre cavaleiro seu amigo. Quando a jovem foi apresentada ao cavaleiro decidiu contar-lhe que o seu coração era do homem por quem esperava há 10 anos, o que encheu de cólera o tio que resolveu vingar-se. Nessa noite, o senhor do Castelo disfarçou-se de fantasma e entrando por uma das duas portas dos aposentos da princesa, disse-lhe que esta seria condenada para sempre se não acedesse a casar com o cavaleiro. Quando estava a ponto de a obrigar a jurar por Cristo, a outra porta abriu-se e, apesar de ser de noite, entrou um raio de sol que desmascarou o falso fantasma. A partir de então a princesa nunca mais foi obrigada a quebrar a sua promessa e passou a viver recolhida numa torre que ficou para sempre lembrada como a Torre da Princesa. As duas portas ficaram a ser conhecidas pela Porta da Traição e a Porta do Sol.Fonte: Diciopédia 2000

Thursday, December 08, 2005

cANÇÃO DE OUTONO













Canção do Outono
Os soluços graves Dos violinos suaves Do outono Ferem a minh'alma Num langor de calma E sono. Sufocada, em ânsia, Ai! quando à distância Soa a hora, Meu peito magoado Relembra o passado E chora. Daqui, dali, pelo Vento em atropelo Seguida, Vou de porta em porta, Como a folha morta Batida...

Paul Verlaine

MORRE LENTAMENTE










Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar. Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

Wednesday, December 07, 2005

Rosas pálidas
















Judith Teixeira, 1925

Rosas pálidas

Ó anémicas! ó pálidas!
Ausentou-se o sangue
Das vossas veias delicadas...
Ó sombras vagas
Duma vida exangue!
Ó virgens aladas!...

Nunca pode encantar-me essa candura
da vossa serena
brancura.
E jamais eu tive
um amplexo de amor
em que no meu peito
se esmagasse
a vossa carne de chorosa Madalena
sem gritos e sem cor...

Ó flébeis, doentias!
- o meu olhar procura a ardência
forte e colorida
das vossas irmãs
rubras e sadias!...
A vida é beijada pelo sol
e ungida pela dor!

Deixai que o sol fecunde o vosso seio...
E que o vento vos beije
em convulsões brutais,
em convulsões pagãs!
A luxúria, ó pálidas irmãs,
é a maior força da vida!
Sensualisai pois! A vossa carne
Arrefecida...
Ó brancas, imaculadas!
Ó virgens inúteis
e decepadas...

In Judith Teixeira, Poemas, (Lisboa: &etc), 1966, pp. 163-64;

a morte dos poetas










A lua estava pela metade
Quando tu partiste.
Lavaste as tuas calças pretas
Como nunca tinhas feito;
Passaste as cinco camisas
Para poderes vir buscar as outras
Como nunca tinhas feito;

Nunca mais vieste buscar as camisas…
Nem trazer a metade que roubaste à lua.

II
Agora que sequei
Podes regar o pó dos dias
Com a tua passada
Como antes eu regava as rosas:
Como o vidro dos outros nos desconhece!

Fecho com cuidado maternal o grito
Dentro das persianas;
Ato à roda dos cabelos da noite
Uma franja de riso no negro do céu:
Peço à noite, a dos gestos sossegados,
A serva humilde,
Que leve nos cabelos a poeira de luz
Que ilumina a janela do outro lado.

Ainda sou eu, mesmo que o dia raie
E eu não me veja de outra cor que as rosas
Brancas dos mármores e dos lírios.
Como se branca morrendo eu me não visse
Da cor dos lagos que me reflectem dormindo
Quando a lua é barco fugido do negro dos céus.
Eu sou um navegante de palavras...
Dou ao mar o rumor do vento falso,
Falho todas as rotas, acerto a tempestade
E, por querer perder-me, achei surpresa
Quando me vi parada olhando o longe.
Chamei por mim como numa montanha
O eco segue a voz que ali não houve
E o silêncio é espesso como o abismo
Onde me deito todas as noites da viagem
Que o tempo engole porque o filho é dele.
E a lua, no seu ventre liso e frio,
Chama à terra firme a sombra do navio
Onde outrora julguei ter embarcado.
Não fui eu que cheguei chorando,
Era outra a nau e a voz era emprestada.
Chamei por mim, de novo, e de novo
O vento frio fustigou a minha voz
E abriu no mar uma falsa clareira,
Um breve errar de luz.

III
Que agonia, a lenta espera
Por uma imagem que resolva o dia!
Que incerteza nas vozes e nos risos e nas lágrimas...
Que estranheza de ser me invade e narra, enfim.
A história de um vazio contra o vazio que há no dia.
O tempo explica, empurra, arrasta a contingência
De ser a anónima expressão de muitos rios parados,
A história que nunca foi porque não tinha que ser.
E contudo, ser humano e sadio como as bestas,
Transbordou do céu nesta paisagem de chumbo
Com o olhar perdido
Com que o poema dá às pombas a brancura,
Ao céu o movimento de asas soltas.

Olho os astros e o meu olhar de terra
Faz sementeira de asas no polimento escuro.
Que palavra de voo ágil e leveza eterna,
Mapa sem escala na inexistência das viagens,
Dará no chão do céu reflexos de poema?
Não dês à sílaba ca´da na palavra como gota de água
Senão o sopro que enfola as bandeiras e as ondas.
Fá-los voar, esses rumores secretos e profundos.
Abre as vogais frente aos navios, o cais
É um perfil de vento para as gaivotas, de longe…
Atira as sibilantes para a montanha, vê-as cair no mar
A pingar a voz da saudade num movimento de alma,
Num poema infinito, renascido a cada ditongo de mel e astros,
De azul e espuma, de flocos de tristeza.
Guarda no côncavo da mão a concha misteriosa
E, se um deus tem sede,
Que beba dessa mão as lágrimas que não choro.

IV
Quem me trouxera um licor de ambrósia
Para sorver do ar este pano de vento
Que se me prende ao rosto,
Que me persegue em finisterra, finistempo, véu.
Somos do ar quando seguimos
Pelo branco dos olhos o rumor das aves.
O nosso corpo é leve como a nossa vontade
De respirar a pausa no intervalo da voz,
A flor sem flor que adormeceu sem astros,
A flor sem ramos arrancada e nua
Sem amanhã para as mãos.
Um nada rodeado de nada
Para arder em silêncio.

Vem, ágil pomba negra da noite,
Cobrir com a tua grande asa
A memória
Por onde a nossa inquietação andou perdida
Como em palco deserto.
Só desta vez, só uma vez, ainda,
Colhe essas rosas de saudade.
Coloca na jarra os caules com tamanhos desiguais
E dispõe, assim, de mim, em memória,
Em cada laço que faço.

V
Em cada laço que faço
Perfaço o traço,
Baço o dia lasso
Que atiro do terraço
Ao espaço.
Faço laçografias
Solto o sonoro laço.
Em cada espaço de dias

Uma folha aponta ao norte,
A mais pequena e frágil;
Para o sul vira a rosa vermelha,
A de sangue e de vida;
A outra, branca e triste,
Atira-a para o mar
Onde Ofélia
Anda perdida ainda.
Que dessas rosas, tantas,
Que a jarra contém
Possa ficar a mais viçosa,
A rosa do amor,
A que nunca morre
E só em saudade se colhe.

VI
Bebo uma lágrima quente e o sal que me sabe
Desagua no mar o desejo de distância.
Por dentro do mar é onde deve estar
Quem assim se entrega ao acaso das marés.
Só para ouvir o rumor antiquíssimo
Dei por ganha a viagem e o naufrágio.
Perdida, nunca estive tão perto de saber
Que nunca é a mesma água.
Ouvimos outro som quando julgamos
Atravessar as pontes com outros barcos em baixo
E outras viagens por dentro da nossa viagem –
E por não o sabermos é que vamos na amurada
Como um embrulho ali deixado pelos deuses.

Mas que sopro invisível se liberta
Da ideia de vento que o telhado abriga
Para deitar o sonho antes da hora?...
Como andavas perdida, entre quintais,
Ó vinha da tristeza, ó canto chão!
Ó melodia adormecida nos meus ouvidos!
Ó mão que afaga, ó colo que se oferece,
Ó noite equilibrista
Na luz quente de um circo de lona,
Numa campânula, numa bolha de água morna
A querer fugir pela janela.
Devolve-me ao meu país do mar
E deixa-me dormir no coração das ondas
Que os poetas também morrem,
Mas morrem mais devagar do que nós.

A morte dos poetas
É qualquer coisa que continua a ser árvore
Mesmo sem a raiz ou para além dela.
A morte do poeta começa muito antes
Da noite e do dia da nossa mesma morte.
A morte dos poetas é uma ficção nossa
Como a vida é uma ficção de poetas. fRANCISCO SOARES (COLAGEM COM POEMAS DE MARIA SARMENTO)

taquicardia








Taquicardia
Delírios de febre, suor e arrepios, me toma de assalto uma taquicardia: o pulso acelera assim de repente, me sinto doente...
Os olhos vidrados, a boca silente. Sutil calafrio, qual sombra da morte, percorre a espinha. Na louca agonia espasmos, tremores...
é a vida que parte? São males? São dores? Que nada... São só ais de amores...
(eliane stoducto)

Portas















"tenho por princípios Nunca fechar portas Mas como mantê-las abertas O tempo todo Se em certos dias o vento Quer derrubar tudo?" (Adriana Calcanhoto)