Tuesday, February 28, 2006

NETZACH

Da mesma forma que Hod significa o mental e a forma que se dá ao plano intelectual, Netzach representa os instintos e as emoções. Esta séfira trata do plano emocional e instintivo. Em Netzach tudo é mais "percebido" do que intelectualizado. Mas as atividades de Netzach não podem ser separadas de Hod. As duas séfiras formam um par funcional. Poderíamos dizer que os dois verbos mais adequados para as duas séfiras seriam: pensar (Hod) e sentir (Netzach).Compreenderemos Netzach se entendermos que é nessa esfera que se trabalha e se integra toda a nossa afetividade e os nossos instintos. Enquanto Hod intelectualiza, Netzach sente e percebe. Enquanto Hod é ligado à palavra escrita e falada, portanto aos comunicadores: escritores e oradores, Netzach é associada aos pintores, músicos e poetas. Quando falamos de Amor, sensibilidade e emoção, estamos atuando em Netzach. Nas antigas civilizações eram incluídas em Netzach todas as atividades onde entra o Afeto, seja a camaradagem entre os guerreiros, seja o relacionamento entre professor e aluno, seja o amor entre um homem e uma mulher. No cumprimento da função sexual, várias séfiras entram em ação. Em Netzach há o relacionamento e interação sutil da força vital entre dois fatores: fluxo e refluxo, estímulo e reação, mas ultrapassando e muito a esfera do sexo. Ela atua também em outros níveis de consciência. Através de um sutil magnetismo, inspira a mente, e a mente dirige as emoções. As emoções, por sua vez, assumem a atividade do duplo etéreo, que por sua vez atua no veículo físico. A tríade formada por Yesod, Hod e Netzach, unem a criação, mente e coração (Emoção).

Tuesday, February 21, 2006

criador-criação-criatura


Acerca da ilusão sobre a natureza das coisas


"Do ponto de vista teológico, e cingindo-nos à dogmática católica, a Criação é entendida como um acto divino que, não contando com qualquer forma preexistente de matéria, se efectivou a partir do nada absoluto. A este respeito, a doutrina distingue três aspectos, que são: “Criação primeira e imediata” - Deus produziu a matéria de que se compõem todas as coisas; “Criação segunda e mediata” – Deus organizou a matéria e formou todos os seres; “Criação contínua”- Deus conserva o Mundo e concede-lhe a existência a cada momento.
Esta concepção, constitui uma excepção, introduzida pela tradição espiritual hebraica, nas doutrinas da antiguidade, fundamentalmente distribuídas por duas linhas: a dualista, segundo a qual Deus teria feito o Mundo de uma matéria preexistente e a panteísta, em que o Mundo se apresenta como uma manifestação da natureza e substância divinas.
Assim, os doutores da Igreja afirmam que o acto criador é eterno nos seus princípios embora, nos seus efeitos – o conjunto das criaturas – ele esteja submetido à lei do Tempo.
Tal distinção remete-nos, de pronto, para a polaridade estabelecida entre Criador e criatura, sendo que de Um se pode dizer que actuou, actua e actuará na esfera dos princípios, que se caracteriza pela eternidade e da outra, que actuou e actua no Mundo dos efeitos, submetido à regra do Tempo.
Entre muitas outras, esta razão bastará para estabelecer a diferença de natureza entre O Criador e a criatura, ou entre a Criação como causa absoluta e transcendente e os efeitos que dela provêm, na forma do Mundo criado. Do Criador pode dizer-se que É e, da criatura, simplesmente que existe. O acto criador foi único porque instantâneo, já que instante e eternidade são a mesma coisa, quando e onde a lei do Tempo não tem lugar. Os “dias” da Criação não correspondem a qualquer cronologia, eles são o modo de encadear, em termos meramente lógicos, consequências instantâneas de um acto, ele próprio instantâneo, na sua eternidade.


O uso e abuso da palavra, conduz inexoravelmente à perda do seu real significado, que está na origem da formação de todos os vocábulos; por isso e em verdade, nenhuma criatura pode, pela sua própria natureza, ser simultaneamente “criador” do que quer que seja. Como bem se viu, e do ponto de vista doutrinário que defendemos, o Criador obrou a partir do nada absoluto, enquanto a criatura terá forçosamente que obrar a partir de um Mundo preexistente, esse mesmo em que ela se insere e do qual é parte integrante.
Expressões como “criadores” de galinhas, às quais chamam a sua “criação”, ou os “criados” da casa, porque nela nasceram e cresceram, não passam de termos correntes, de que percebemos o sentido, mas cujo uso inadequado banaliza uma concepção espiritual constituída como eixo da toda a realidade manifestada. A indústria de avicultura, independentemente das manipulações químicas ou genéticas, continua sem poder produzir frangos do nada, do mesmo modo, uma casa pode ter muitos “criados” que nenhum deles, certamente, nasceu sem progenitores, ainda que gerado in vitro , ou sem matéria preexistente, em caso de clonagem.
Evidentemente, todo o nascimento corresponde ao modo de “Criação contínua”, conforme anteriormente ficou definido; no entanto, tal facto não confere a quem controla os nascimentos a qualidade de "criador", qualidade essa, que nem os próprios progenitores do nascituro podem reivindicar.
Mas não só. Por vezes ouvem-se afirmações como por exemplo: “os cães criam pulgas”. E, neste caso, os próprios canídeos saem da sua humilde condição, para se tornarem, eles também, “criadores”, quando, na verdade, não fazem mais do que proporcionar aos desagradáveis parasitas um meio propício à sua proliferação.
E que dizer da tão vulgarmente celebrada “criação” artística? O modo penoso como a espécie dos mamíferos desenvolveu um aparelho auditivo que permitisse ao homem o acesso a uma subtil diferenciação de sons; a lentidão desesperante como evoluíram os instrumentos musicais até se chegar à grande orquestra; a remota origem das técnicas instrumentais, tonais, de contraponto, etc; nada disso parece contar como matéria preexistente, quando um músico oitocentista compõe uma bela sinfonia e, por isso, só por isso, tem honras de “criador”.
Igualmente, nas artes visuais, todo o lento labor para a sujeição da matéria informe à ideia humana parece irrelevante, como antecedente condicionante, frente à súbita irrupção de um inspirado tido como “criador”, como se ele fosse o autor de todos os antecedentes ao eclodir da sua obra – o que, mesmo a verificar-se, não bastaria para fazer dele um Criador - ou tivesse alcançado resultados a partir de nada.
Particularmente caricata é a designação de “criador de moda” e isto porque se aplica uma ideia de eternidade, a Criação, ao artefacto humano mais sujeito à corrupção do Tempo.


A inspiração dos autores, fenómeno a que a moderna teoria de Arte é alheia ou simplesmente omissa, constitui, provavelmente, um dos temas que, passando pela atribuição de genialidade ao inspirado, conduz à ideia da “criação” artística, na convicção de que algo de radicalmente novo foi obtido, constituindo um valor acrescido, no conjunto da obra humana.
Não cabendo aqui desenvolver o tema da inspiração artística, convém, no entanto atender ao seu sentido e significado. Esta ideia da inspiração artística provem da cultura clássica; segundo ela, as Musas produziam um estímulo subtil, na consciência mais profunda do artista, e este absorvia-o, como se inalasse um perfume, ou inspirasse uma sugestão. A obra que daí surgia e que era o resultado material de um autor humano, não deixava por isso de ter uma outra autoria, mais alta, não material e não humana, já que fora gerada pela vontade divina e transmitida pelo lampejo inspirador das Musas. Na verdade, segundo o Génesis mosaico, o Homem não tinha por tarefa sagrada criar o Jardim do Éden, mas apenas cuidar dele, inspirado pela vontade divina.
Outra questão que frequentemente configura, de modo ilusório, a noção de criação artística é a ideia de originalidade, associada aos conceitos do inédito radical, do inteiramente novo. No que respeita às novidades é sempre necessário lembrar que a realidade é muito mais exígua do que as modernas ideias de infinitude e de quantidade, podem fazer parecer.
Com efeito, a realidade “move-se” num quadro de possibilidades mais ou menos restrito e hermético, já que, desde a Criação, nenhuma nova possibilidade pode ser adicionada às que foram estabelecidas no próprio acto criador. No entanto, o número indefinido de possibilidades permite um número indeterminado de interacções, muitas delas susceptíveis de produzirem uma ilusão de novidade absoluta; e dizemos absoluta porque, algumas interacções, tendo aparecido pela primeira vez num tempo histórico, constituem, em determinado grau e nesse tempo, uma novidade.
Os resultados das interacções entre vários elementos da realidade conduzem invariavelmente ao produto das partes que os compõem e, de modo algum, a novas partes ou novos produtos.
Os resultados de uma Arte vivendo na procura obsessiva da originalidade, num mundo marcado pelo fastio permanente, conduzem todo o processo artístico ao seu ponto de partida, do mesmo modo que o penedo de Sísifo resvalava sistematicamente para o seu lugar original. Nada há de novo. No palco da realidade representa-se uma única peça, variando apenas cenários e guarda-roupa. O único encanto é que a representação seja boa. "
Carcavelos, Janeiro de 2001.
Carlos Dugos

Friday, February 17, 2006

PRECE JUDAICA




"Guia-me luz gentil,
Através das trevas circundantes.
Guia-me em frente.
Escura é a noite e estou longe da luz.
Guia os meus passos pois não peço para ver o futuro distante,
Um passo só me basta.
Enquanto o teu poder me abençoar,
Guia-me através de penhascos e atoleiros.
Até que ao alvorecer me sorriam os anjos,
Que há tanto tempo amei e depois perdi."

Saturday, February 11, 2006

TEUS OLHOS COR DE MEL



Das palavras que trazes afogadas,
Das tuas mãos de flor, olhos de mel,
Dos teus cabelos lisos as cores das madrugadas.

A tua joia cintilante são os doentes.
Do teu andar vem a fúria bater-te.
Dos teus gestos que fazes sentes.

Onde estivermos há-de estar o vento.
Nú na chuva e no fogo.
Herois castrados e malditos, combatemos.

Todos sofremos,
Os estilhaços dos ferros ocultos
O mesmo sal que foi feito do mesmo sangue,
E todos dormimos como putos.
E na chama das nossas mesas esqueçemos.

Tu me dirás, flor que nós existimos.
Tu me dirás, flor que nascemos das árvores.
Que viémos, amámos e partimos

No teu perfume raro nasce a palavra do nada.
Tu que me dizes flor, e no vento sorrimos
A esta semente selvagem.
E no silêncio canto a dureza da montanha de lava.

Penso no colar das tuas horas.
E o casulo, também o teu encanto
E no colo do meu silêncio tu choras.

Volta outra vez ao mundo para eu poder dormir.
Devoro as minhas lágrimas e o medo,
Enquanto a fome me doi.
Volta outra vez ao mundo para tu sorrires.

Teus olhos de boa artesã,
Eu poeta das cores
Tu flor a esperança do amanhã.

Morro aos poucos de ternura,
E a minha aventura o caldo da minha infância,
Certo é os teus olhos são a tua cura.

Neste social baile dos malditos,
Pareces estar tão longe e estás tão perto.
Forjo as cores e as formas num silêncio de gritos.José Pires

Sunday, February 05, 2006

PRECE


Concedei-me Senhor Serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, Coragem para modificar aquelas que eu posso e Sabedoria para distinguir umas das outras.

Saturday, February 04, 2006

CAMINHOS














(...)"Eu não acredito na imortalidade de coisa alguma; e embora um poema deva valer por si próprio, como obra independente do autor e da sequência da criação a que este foi dando, eu todavia penso que é mais importante, humanamente, o espírito de peregrinar que o facto conclusivo de haver visitado lugares santos. Na peregrinação, que é a nossa vida, muito mais somos visitados do que visitamos. Diário íntimo ou fastos espiritualmente autobiográficos – a poesia é mais do que isso. A co-responsabilidade do tempo e nossa, que é a única garantia de uma autenticidade - pois que será esta senão a busca de uma verdade que está para lá da actividade estética , e que a actividade estética não tem por fim achar, mas testemunhar que insatisfeitamente ela é buscada? -, ultrapassa precisamente o solipsismo inerente mesmo à mais convincente das criações poéticas , e concede à poesia uma paradoxal objectividade que as fabricações da perfeição artista são incapazes de atingir, por demasiado dependentes do gosto, quando o testemunho vale pela reflectida espontaneidade que apela e apelará sempre para a comunhão de todos os inquietos, todos os insatisfeitos, todos os que exigem do mundo, para os outros, a generosidade que lhes foi negada."Jorge de Sena

CRIAR OU REPETIR













ÉS CRIADOR OU REPETIDOR?
de Luís Martins Simões, da Editora Angelorum Novalis

O ser humano não cresce quando repete. Só cresce quando utiliza o seu poder criador.Há muitos anos que vamos repetindo o passado e tentando melhorá-lo no futuro. E não resulta.No entanto, no ensino, nas escolas, no teu quotidiano, ensinam-te a repetir e verificam se repetes bem.A evolução humana nunca se coadunou com repetição. O ensino é uma repetição, a vida quotidiana é uma repetição, a vida com os amigos é repetição, a vida em família é repetição, as religiões são repetição.E o mundo não funciona.Este livro ajuda-te a perceber de onde vem o teu poder criador e a descobrir como utilizá-lo.Muitos não sabem, mas temos todos a opção de viver a nossa vida como repetidores ou como criadores.

Friday, February 03, 2006



"Hordas de brutos tentam tomar de assalto o templo sagrado da Espiritualidade. São estupradores emocionais, que querem arrombar a porta dos arcanos celestes, mas sem possuírem as credenciais de paz e luz em seus anseios violentos. Não possuem os pré-requisitos básicos para as empreitadas na luz superior. São brutais no assédio, mas fracos de espírito por dentro. Almejam o poder, não a sabedoria.O mundo está cheio dessas hordas de brutos confusos, e o amor passa longe de seus corações. A Grande Luz é generosa, mas conhece os segredos e as intenções de todos. Por isso o acesso aos portais espirituais, que levam aos planos superiores, só é permitido àqueles que apresentarem as condições luminosas compatíveis com os objetivos colimados.“Quem quer mais luz, que apresente luz em seu serviço e em seus objetivos”

REDENÇÃO




















Ergue-te Gigante - Empunha o facho.
É tempo de o Mundo iluminares.
Chega de trevas. Abaixo a rebeldia
Que Te lançou em cadeias milenares.
Serpente antiga - Dragão misterioso
Expulso do trono que traíste.
É tempo de voltares às estrelas
Reocupando o lugar donde saíste.
Olha o Firmamento, a Via-Láctea,
E verás ali o Teu lugar primeiro,
Escuro, sombrio como silício,
Saco de Carvão, junto ao Cruzeiro.
Naquela cruz celeste das estrelas
O Teu bendito Irmão crucificado
Verás, sangrento, sofredor cativo,
Para arrancar-te à senda do pecado.
Empunha o facho e vem,
O Teu trono está limpo e redimido
A espera de Ti para reinares
Sobre um Mundo que por Ti foi corrompido.
É tua vez agora de apagar
O incêndio que no Mundo começaste,
É tua vez agora de colher
A semente que no Mundo semeaste.
Redimido estás, volta a brilhar
Luciferina chama os Céus Te esperam
Anjo da Luz! Retoma o facho!
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Santarém, janeiro de 1955
Eymar Franco
Dhâranâ 11/12, 1956