Wednesday, October 25, 2006

A energia dos anjos, seja qual for a sua origem, nasce de um nível mais elevado, ou seja, é dotada de um maior grau de liberdade do que aquela dos demônios, cuja existência é mais determinada, mais fixa. Tomberg, reconhecendo isto, chega a dizer que é impossível gerar egrégoras benéficas porque "uma forma não é produzida pela radiação, apenas pela coagulação e condensação. Agora, o bem apenas irradia, nunca condensa. É sempre o mal que faz isto"

TOMBERG

"Existem hierarquias que são da 'esquerda' e que atuam dentro dos limites da lei, executando uma função estritamente justa na sua capacidade de acusadores e 'testadores' - enquanto de outro lado, existem os 'micróbios do mal' ou entidades artificialmente criadas por seres humanos encarnados. Essas últimas, são demônios cuja alma é uma paixão especial e cujo corpo é a totalidade das vibrações 'eletromagnéticas' produzidas por essa paixão. Esses demônios artificiais podem ser gerados por comunidades humanas - tais são os 'deuses' monstruosos dos Fenícios, Mexicanos e mesmo dos Tibetanos dos dias atuais. O Moloch de Canã, que exigia o sacrifício sangrento do primogênito, mencionado com tanta freqüência na Bíblia, não é uma entidade hierárquica - ou bom ou mal - mas sim uma egrégora maligna, isto é , um demônio criado artificialmente e de forma coletiva por comunidades humanas preenchidas com a força motivadora do medo."














A palavra "anjo" vem do grego angelos, significando "mensageiro"; o equivalente em hebraico, malakh possui exatamente a mesma conotação. Daí os anjos serem literalmente os mensageiros que transmitem os nossos pensamentos e intenções, assim como as de Deus. É lógico, como Steinsatz segue dizendo, existe o outro lado da moeda: "Assim como existem anjos santos e criados pelo sistema sagrado, também existem anjos destrutivos, chamados de demônios ou diabos que são emanações das conexão do homem com aqueles aspectos da realidade que estão opostos à santidade".
Nossa localização segue o eixo tempo/espaço, e é através dele que nos identificamos. Se ele torna-se necessário para nossa identificação como indivíduos, incorremos freqüentemente no erro de nos reconhecermos somente num eixo tempo / espaço muito restrito e de não nos localizarmos fora dele. Reconhecer e ampliar a visão do contexto em que vivemos torna-se tão importante ao conhecedor da psique humana quanto ampliar a visão daquilo que é de natureza intrínseca a todos nós. Se na natureza intrínseca existe algo de eterno, diante de um contexto localizado no tempo, existe modificação e movimento : fatos desencadeados um após o outro, e idéias que se alteram. As visões e concepções acerca do homem e do mundo se modificam ao longo do tempo e dos fatos. Neste sentido, o mundo está sempre sendo tecido. Embora permanecemos presos à concepção que nos localiza no tempo/espaço, habitamos muito pouco o tempo/ espaço em que vivemos, permanecendo alheios ao que acontece do outro lado do globo, e refratários a novas idéias que surgem.

Instituto Nokhooja
No fundamento das coisas, existem partículas elementares que podem exercer influências recíprocas instantâneas a longa distância, podendo-se considerar significativamente possuidoras de propriedades mentais e existir em estados que são, como escreveu Heisenberg, “não absolutamente reais, mas entre a ideia de uma coisa e uma coisa real.”


Anónimo

”ao procurar o invisível, encontramos, por detrás do mundo das aparências e dos fenómenos, o “arrière-monde” das leis que, em conjunto, constituem a ordem do mundo”.

Edgar Morin

Friday, October 13, 2006

Ary dos Santos




















Filhos dum deus selvagem e secreto
E cobertos de lama, caminhamos
Por cidades,
Por nuvens
E desertos.
Ao vento semeamos o que os homens não querem.
Ao vento arremessamos as verdades que doem
E as palavras que ferem.
Da noite que nos gera, e nós amamos,
Só os astros trazemos.
A treva ficou onde
Todos guardamos a certeza oculta
Do que nós não dizemos,
Mas que somos.

Michel Fugain

Diz sim ao mestre, vírgula;
ele é o mestre, vírgula;
tu estás na terra, sem vírgula,
para te submeteres ou para te calares.
Vamos, repete:
Diz sim ao mestre, o mestre já te disse para pores a pinta no i. Ele é o mestre. E o m, desta vez sem maiúscula, importante, lembra-te, vírgula. Tu estás na Terra, um e e dois rr, para te submeteres. A quem? Ao mestre, c'os diabos ou para te calares, cala-te. Cuidado com os dedos e ponto final, meu menino, atenção à tua nota.
Repete: Diz sim ao mestre... Diz sim ao mestre...
A verdade ensina-a ele nos seus ditados. Escutem, respeitem o mestre. Ele tem... ele sabe, ele pensa logo seguimo-lo, invejamo-lo, porque ele é o mestre. Ele sabe tudo, ele pensa por nós. É o guardião seguro da nossa cultura. Nós somos imbecis ele é o evangelho. Filhinho, é preciso escutá-lo, se não, onde vamos parar?
Repete: Diz sim ao mestre...

PABLO NERUDA














Se cada dia cai,
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira do poço
da sombra
e pescar luz caída com paciência.

Saturday, October 07, 2006

SOSHI















O homem perfeito usa a sua mente como um espelho. Ela nada aprisiona e nada recusa. Recebe mas nao conserva.

Wednesday, October 04, 2006

AGOSTINHO DA SILVA

Características do que houver no Sagrado: Criança como a melhor manifestação da Poesia pura e como inspiradora e suporte e incitadora a ser criança de todos os que existam. O gratuito da vida. A plena liberdade de todo o ser.

SER E NÃO SER SÃO A CHAVE DO SER.

Com toda vontade de lhe ser fiel.

carta

Queridos Amigos,

Parece que tôda a gente está de acôrdo em que o mundo inteiro se encontra em crise. Como isto me parece demasiado vasto para eu poder ser util, decidi que sou eu quem está em crise e talvez consiga sair dela com três princípios: O de me ver livre do supérfluo, o de não confundir o verbo amar com o verbo ter, o de prestar voto de obediência ao que for servir, não mandar. Nestes termos comunica a todos os Amigos que não imporei a ninguém a leitura de textos meus, a começar pelas Folhinhas, e que só responderei a quem me escreva, pedindo ( para aumentar o supérfluo...) que cada carta venha com selinho de resposta, mas um apenas, para me não obrigar a escrituração administrativas. Para tudo o que fordes e fizerdes rogarei perfeito empenho e boa sorte, bom vento de navegar.

Setembro de Lua Cheia e de 93.
“ (…) Apesar de todas as amizades, sempre na vida estamos sozinhos; o que é mais grave, mais doloroso, exactamente como o que é mais belo, passa-se apenas connosco. Entre um homem e outro homem há barreiras que nunca se transpõem. Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos”.
(Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, VII, edição da Ulmeiro, 1990)
“Se você não pode amar, não ame; seja simples, seja humilde, faça calmo o seu trabalho, e deixe o resto. O amor é uma criação de beleza, como a pintura e a música; reserva-se a raros ser Ticiano ou Greco ou Mozart ou Bach; reserva-se a raros o privilégio de amar”.
(Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, V, edição da Ulmeiro, 1990)
“Admirar a Natureza e não admirar a mulher que é a sua obra mais bela e não a admirar, querendo-a, em tudo o que ela é, espírito e corpo, é ser um poeta que faltou, na sua alma, à amplitude do mundo. O primeiro dever diante de uma mulher é ser um fogo que arde e um coração que se vigia”.
(Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, IV, edição da Ulmeiro, 1990)
“Cada vez vou sentindo mais que se não pode perceber o que seria essencial perceber, mas procedo sempre como se estivesse convencido do contrário, ou, por outras palavras, não renuncio”.
(Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, III, edição da Ulmeiro, 1990)

AMA(S)

“Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama: às vezes o sabe a mulher amada, mas creio até que num amor que fosse pleno, em que nada entrasse das preocupações da terra, nem ela o saberia”.
(Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, II, edição da Ulmeiro, 1990)
“Deus aspira a que o deixem em descanso, a que não digam nada sobre ele, a que não discutam se existe se não existe, se mais vale pelo amor ou pela acção, como se importasse alguma coisa a Deus amar ou agir (…) Diria então que um Deus não surpreendido no seu acto de manipular, ou não manipulado, seria essencialmente um Deus que se esconde. Não podia dizer nada sobre ele, nem de bem nem de mal, não lhe fixaria nenhum atributo, pois que os atributos que pregamos em Deus são apenas os rótulos de preço, preparação de uma venda de Deus a nós próprios e aos outros; quem não precisa de dinheiro, vendendo-se, forma habitual de se conseguirem recursos, ou vendendo, não põe etiquetas em Deus; conserva-o limpo e, por intrínseco, esquecido, ou escondido a seus olhos, ou aos olhos alheios e não apenas olhem, os meus, o mundo, a que, por fantasia, empresto olhos idênticos aos meus. Deus se esconderia, Deus está oculto, de Deus, ao a quem não rezo, nada posso dizer; do outro, daquele a quem rezo, todo eu sou palavras”.
(Agostinho da Silva, “Ir à Índia Sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos”, 3, 1, edição da Assírio & Alvim, Lisboa, 1994)
“Não ousou o homem pôr a maldade entre os atributos de Deus e pecou primeiramente porque foi estreito; e de novo pecou porque foi tímido. Consolava-o a ideia de uma protecção sempre possível e a mente, que não se levantava ao total, só pôde conceber a explicação infantil e ilógica dos dois demiurgos. Fugimos da aspereza e erguemos um palácio de fadas, esplêndido e seguro, mas enervante e mole; tememos a vida e a vida se vingou.
“Restituamos a Deus toda a sua grandeza; reconheçamos o seu poder na violência e no terror; tenhamos por divino o abaixamento destes tempos; emana Caim do espírito supremo – como Abel; não tiremos a Deus o que temos como ideal superior: a vontade do progresso; não o despojemos, por interesse egoísta, do prazer de marchar, não lhe dêmos em troca da variedade que roubamos a monotonia a que aspira a alma baixa”.
(Agostinho da Silva, “Ir à Índia Sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos”, 2, 24, edição da Assírio & Alvim, Lisboa, 1994)

Ir á Índia sem abandonar Portugal

“O mal que se vê é aguilhão para o bem que se deseja; e quanto mais duro, quanto mais agressivo, se bate em peito de aço, tanto mais valioso auxiliar num caminho de progresso; o querer se apura, a visão do futuro nos surge mais intensa a cada golpe novo; o contentamento e a mansa quietude são estufa para homens; por aí se habituam a ser escravos de outros homens, ou da cega natureza; e eu quero a terra povoada dos rijos corações que seguem os calmos pensamentos e a mais nada se curvam”.

Agostinho da Silva

AGOSTINHO DA SILVA

“ (…) O mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta a vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder (…) ”.
(Agostinho da Silva, “Ir à Índia Sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos”, 2, 15, edição da Assírio & Alvim, Lisboa, 1994)

Thursday, September 28, 2006

Yogaswami

"Seja leal para consigo mesmo. Não altere o seu comportamento apenas para contentar os outros".

AMO(S)

A lealdade é um sinal de uma verdadeira amizade. A Bíblia diz em Provérbios 17:17 “O amigo ama em todo o tempo; e para a angústia nasce o irmão.”
A nossa lealdade a Deus não pode ser dividida. A Bíblia diz em Mateus 6:24 “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”

Monday, September 18, 2006

DASS

O que significa caralho? Segundo a Academia Portuguesa de Letras, caralho é a palavra com que se denominava a pequena cesta que se encontrava no alto dos mastros das caravelas e de onde os vigias, essa espécia de suricatas, perscrutavam o horizonte em busca de sinais de terra. O caralho, dada a sua situação ou seja, localizado numa área de muita instabilidade (no alto do mastro), é o lugar onde se manifesta com maior intensidade o rolamento ou movimento lateral de um barco. Também era considerado um lugar de castigo, punição e tortura para os que, marinheiros ou não, cometiam alguma infração a bordo. O castigado era enviado para cumprir horas e até dias inteiros no caralho e quando descia, ficava tão enjoado que se mantinha sossegado por um bom par de dias. Daí vem a célebre expressão: mandar para o caralho. Caralho é o termo comparativo que se usa para definir toda uma gama de sentimentos humanos e quase todos os estados de alma. Quantas vezes, ao apreciar uma coisa que é boa ou que nos agrade, não exclamámos, mesmo que em voz baixa, inaudível, pensamento mudo mas intenso: isto é do caralho! Se nos chateamos com alguém, manda-mo-lo para o caralho. Rápidamente e em força. Se alguma coisa não nos interessa, nem por um caralho. Mas, se alguma coisa, por muito aparentemente insignificante aos olhos de terceiros, nos interessa muito, então é do caralho. Também são comuns as expressões: Essa é boa p'ra caralho. Esse gajo é do caralho. Isso é longe pra caralho. CARALHO! E não há nada que não se possa definir, explicar ou enfatizar sem juntar um caralho. Se um merceeiro (*) se sente deprimido pela situação actual do seu negócio vocifera: estamos a ir para o caralho! Quando se encontra alguém que há muito tempo não se vê, onde caralho te meteste, caralho?! (caralho usado como pontuação, algumas vezes enfatizado por um rotundo foda-se). É por isso que envio esta saudação do caralho, e se vomecês não são do caralho, espero que este texto vos saiba bem e agrade pra caralho. É chique e fica bem poderemos dizer caralho ou mandar alguém para o caralho imbuídos de um espírito com mais de cultura e autoridade académica.
E que tenhais uma semana feliz. Uma semana do caralho.

(*) Negociantes, vendedores, ciganagem e liberais neoconas que vêm infestando o planeta em chusmas ininterruptas, autênticas catadupas de inúteis que almejam impingir uns aos outros mercadoria inútil, vulgo lixo, enquanto declamam poemas neoliberais como quem caga postas de pescada.

retirado do blog ´por tu graal`

Friday, September 15, 2006

SACANAGEM



"Sabe o que é melhor que ser bandalho ou galinha? Amar. O amor é a verdadeira sacanagem".

- Tom Jobim

GATOS II










"Eu conheci muitos pensadores e muitos gatos, mas a sabedoria de gatos é infinitamente superior."
- Hippolyte Taine

"Se um homem pudesse ser cruzado com um gato, melhoraria o homem mas deterioraria o gato."
- Mark Twain

"O gato nunca é comum."
- Carl van Vechten

"A inteligência no gato é menosprezada."
- Louis Wain

"A dificuldade com gatos é que eles não têm nenhum tato."
- P.G. Wodehouse

GATOS I















"A veneração dos egípcios pelos gatos não era nem tola nem infantil. Por meio do gato, o Egito definiu e refinou sua complexa estética."
- Camille Paglia

"Gatos falam com os rabos."
- Cleveland Amory

"Gatos podem ser engraçados, mas têm os modos mais estranhos de mostrar sua alegria. O nosso sempre urinou em nossos sapatos."
- W.H. Auden

"É fácil entender por que os gatos despertam sentimentos de antipatia nas pessoas. Um gato se mostra sempre bonito; sugestionando idéias de luxo, limpeza, e prazeres voluptuosos."
- Charles Baudelaire

"O gato é, acima de tudo, um dramaturgo."
- Margaret Bensen

"Qualquer um que afirme que um gato não é capaz de dar um olhar sujo nunca conviveu com um gato, ou sempre esteve desatento."
- Maurice Burton

"Você vê aquele gatinho que persegue o próprio rabo tão lindamente? Se você pudesse olhar com os olhos dele, você poderia a ver centenas de figuras que executam dramas complexos, com assuntos trágicos e cômicos, conversações longas, muitos pensamento e muitos sobe e desce do destino."
- Ralph Waldo Emerson

"Sempre me dá um calafrio quando eu vejo um gato que vê o que eu não posso ver."
- Eleanor Farjeon

"Não há nenhum modo de falar sobre gatos que permitem a pessoa passar como uma pessoa sã."
- William S. Landor

"Gatos não pertencem às pessoas. Eles pertencem aos lugares."
- Ogden Nash

"Observe um gato quando entra em um quarto pela primeira vez. Procura cheiros, não fica quieto um momento, não confia em nada até que examinou e travou conhecimento com tudo."

Tuesday, September 12, 2006

CEGUEIRA

«- Anos e anos de viagem sideral com os pés
iracundamente
azuis. Sou eu,
como um retrato de cabeça para baixo.
Conheci-me cantador em estado
de amante. Tive
o desviado ofício de canteiro.
Fiz uma catedral. Morri
acocorado. Eu era um amante
com ofício de poeta cego. Um dia
transformei-me na mulher que amava.»

Herberto Helder

PULSAR















"...e dos intensos poros da madeira exalam-se os bosques completos.
Ou são estrelas negras, os corpos, se o dia se chega para diante,assim depressa, pedra que se desloca varada pelos astros.
E as flores nunca baixam as pálpebras sobre os olhos."


Herberto Helder

"Ich bin der Geist, der stets verneint"

Do eterno erro na eterna viagem,
O mais que [exprime] na alma que ousa,
É sempre nome, sempre linguagem,
O véu e capa de uma outra cousa.
Nem que conheças de frente o Deus,
Nem que o Eterno te dê a mão,
Vês a verdade, rompes os véus,
Tens mais caminho que a solidão.
Todos os astros, inda os que brilham
No céu sem fundo do mundo interno,
São só caminhos que falsos trilham
Eternos passos do erro eterno.
Volta a meu seio, que não conhece os deuses, porque os não vê,
Volta a meus braços,
melhor esquece que tudo só fingir que é.
fAUSTO
F.Pessoa

Monday, September 04, 2006















Krishna havia se retirado para a floresta e estava em meditação embaixo de uma árvore, quando um caçador, na pemumbra da floresta, o confunde com um antílope e o fere na planta do pé. Mesmo ferido de morte, aceita-a com grande serenidade. No Bhagavad-Gita ele diz:
- Inevitável é a morte para os que nascem;todo o morrer é um nascer – pelo que, não deves entristecer-te por causa do inevitável.

wikipédia

Friday, September 01, 2006

Movimento de existir

Duas rectas que se cruzam,
Eis um ponto;
Esse ponto , em movimento,
Há-de ser recta também;
E essa recta e outra recta
Hão-de formar novo ponto,
Novo ponto
Nova recta
E sempre assim sem remédio!
Eu sou um ponto nascido
De duas vidas cruzadas

Reinaldo Faria

Barca Bela

Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge de ela,
Foge de ela,
Ó pescador!

Almeida Garrett

Da observação











Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Mario Quintana - Espelho Mágico

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

Sophia de Mello Breyner Andressen

Mar sonoro,
mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Pedro Homem de Mello

Rasguei o cabelo ao Sol.
Rasguei os ombros à Lua.
Rasguei os dedos aos rios.
Rasguei os lábios às rosas
E rasguei o ventre aos frutos
E a garganta aos rouxinóis.
Mas ninguém (nem mesmo tu!)
Viu que em tudo o que eu rasgava
Era a imagem do teu corpo
Branco,
Firme,
Intacto,
Nu.

Manuel Alegre

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.Contar-te longamente longamente.Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.Contar-te logamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.E longamente as coisas perigosas.

Joaquim Pessoa

Bastava-nos amar.
E não bastava o mar.
E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.Pelo mar.
Por um rio ou uma veia.Bastava-nos ficar.
E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.Já não bastava olhar.
Urgente: amar.E ficar. E fazermos uma teia.Respirar.Respirar.
Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.E bastava.
Bastava respirar a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa

Carlos Drummond de Andrade I

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.Porque amor não se troca,nem se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade

Pablo Neruda




















Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Te amo e não te amo como se tivesse em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Eugénio de Andrade II















Cala-te,
a luz arde entre os lábios,e o amor não contempla,
sempre o amor procura,
tacteia no escuro,essa perna é tua? esse braço?
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
abre-se a alma à lingua,
morreria agora se mo pedisses,
dorme,
nunca o amor foi fácil,nunca,
também a terra morre.

Eugénio de Andrade

Thursday, August 31, 2006

Ricardo Reis

Eu nunca fui dos que a um sexo o outro
No amor ou na amizade preferiram.
Por igual a beleza apeteço
Seja onde for, beleza.
Pousa a ave, olhando apenas a quem pousa
Pondo querer pousar antes do ramo;
Corre o rio onde encontra o seu retiro
E não onde é preciso.
Assim das diferenças me separo
E onde amo, porque o amo ou não amo,
Nem a inocência inata quando se ama
Julgo postergada nisto.
Não no objecto, no modo está o amor
Logo que a ame, a qualquer cousa amo.
meu amor nela não reside, mas
Em meu amor.
Os deuses que nos deram este rumo
Também deram a flor pra que a colhêssemos
com melhor amor talvez colhamos
O que pra usar buscamos

Prazer da poesia

Do prazer da poesia falou T. S. Eliot considerando-o como a primeira finalidade social da poesia. Diz ele: [...] se queremos encontrar a finalidade social essencial da poesia, teremos de examinar primeiramente as suas funções mais óbvias, aquelas que terá de realizar, para realizar quaisquer que sejam. Julgo que a primeira sobre a qual podemos ter certeza é a de que a poesia deve dar prazer. Se me perguntarem que espécie de prazer, apenas poderei responder que aquela espécie de prazer que a poesia dá [...].
Luiz Serrano

Tuesday, August 29, 2006

Para o mar Maria ia

Para o mar Maria ia
Para o mar ia
Para o mar ia
Ao pisar a fina areia
Em hora de maré cheia
O mar ia até Maria
O mar ia até Maria
O mar ia
O mar ia

Maria
Mar em trânsito...

(eliane stoducto)

Palavras de Alceu a Safo

Ó cheia de pureza,
ó Safo coroada de violetas que docemente ris:
eu te diria de bom grado certa coisa,
se não fosse a vergonha que me impede.

Resposta de Safo a Alceu
Se quisesses tão só o bom e o belo,
se em tua boca más palavras não tramasses,
não haveria essa vergonha nos teus olhos e poderias exprimir-te francamente.

Monday, August 28, 2006

Quatro monges

Quatro monges decidiram meditar em silêncio completo, sem falar por duas semanas. Na noite do primeiro dia a vela começou a falhar e então apagou.O primeiro monge disse:- Oh, não! A vela apagou!O segundo comentou:- Não tínhamos que ficar em silêncio completo?O terceiro reclamou:- Por que vocês dois quebraram o silêncio?Finalmente o quarto afirmou, todo orgulhoso:- Aha! Eu sou o único que não falou!
conto zen

Não tenho nada

Um jovem monge aproximou-se de Chao-chou muito orgulhoso e eufórico, e disse:- Me desfiz de tudo o que tinha! Minhas mãos estão vazias e vim à vós com o coração sereno!- Então resta apenas desfazeres-te disso, e chegarás ao Zen.- Afirmou o mestre. - Mas, - replicou o monge - não tenho mais nada. Do que mais posso me desfazer?- Tudo bem, - comentou o sábio, - se tu queres manter o Nada que ainda carregas, fique com ele...
conto zen

Thursday, August 24, 2006

She`s waiting for another love















Ela é a noiva dos pássaros e transporta a mensagem da boa nova,
ela é a Vénus por todos sonhada,
a voraz caçadora de homens que a todos promete o prazer,
ela é a megera a prostituta e a sibila e renasce do gelo e quebra as vidraças.

microimpressões poéticas por Artur Paiva

imagem zanovi

Eugénio de Andrade I



Friday, August 18, 2006

Nao sei se é amor que tens











Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo.
Tanto me basta.
Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro.


Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?
Pessoa

Olhando o mar, sonho sem ter de quê











Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?



Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?Mas colhe rosas.
Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
Fernando Pessoa

A NOITE DISSOLVE OS HOMENS




















A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores
que outrora me perturbavam.


A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
sem esperança... Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio.
Os suicidas tinham razão.

Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces,
aurora.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa. Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1983

Wednesday, May 17, 2006

lenda indiana sobre a criação da mulher

"Diz a lenda que o Senhor, após criar o homem e não tendo nada sólido para construir a Mulher, tomou um punhado de ingredientes delicados e contraditórios, tais como timidez e ousadia, ciúme e ternura, paixão e ódio, paciência e ansiedade,alegria e tristeza e assim fez a Mulher e a entregou ao homem como sua companheira.Após uma semana, o homem voltou e disse:- Senhor, a criatura que você me deu faz a minha vida infeliz.Ela fala sem cessar e me atormenta de tal maneira que nem tenho tempo para descansar. Ela insiste em que lhe dê atenção o dia inteiro...e assim as minhas horas são desperdiçadas. Ela chora por qualquer motivo e fica facilmente emburrada e, às vezes, muito tempo ociosa. Vim devolvê-la porque não posso viver com ela.Depois de uma semana o homem voltou ao Criador e disse:- Senhor, minha vida é tão vazia desde que eu trouxe aquela criatura de volta! Eu sempre penso nela, em como ela dançava cantava, como era graciosa, como me olhava, como conversava comigo e como se chegava a mim. Ela era agradável de se ver e de acariciar. Eu gostava de ouvi-la rir. Por favor, me dê ela devolta.- Está bem, disse o Criador. E a devolveu.Mas, três dias depois, o homem voltou e disse:- Senhor, eu não sei. Eu não consigo explicar mas, depois de toda esta minha experiência com esta criatura, cheguei à conclusão que ela me causa mais problemas do que prazer.Peço-lhe, tomá-la de novo! Não consigo viver com ela!O Criador respondeu:- Mas também não sabe viver sem ela. E virou as costas para o homem e continuou seu trabalho.O homem desesperado disse:Como é que eu vou fazer? Não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela.E arremata o Criador:- Achei que, com as tentativas, você já tivesse descoberto.Amor é um sentimento a ser aprendido. É tensão e satisfação.É desejo e hostilidade. É alegria e dor. Um não existe sem o outro. A felicidade é apenas uma parte integrante do amor.Isto é o que deve ser aprendido. O sofrimento também pertence ao amor. Este é o grande mistério do amor. a sua própria beleza e o seu próprio fardo. Em todo o esforço que se realiza para o aprendizado do amor é preciso considerar sempre a doação e o sacrifício ao lado da satisfação e da alegria. A pessoa terá sempreque abdicar de alguma coisa para possuir ou ganhar uma outra coisa. Terá que desembolsar algo para obter um bem maior e melhor para sua felicidade. É como plantar uma árvore frente a uma janela...Ganha sombra, mas perde uma parte da paisagem.Troca o silêncio pelo gorgeio da passarada ao amanhecer. É preciso considerar tudo isto quando nos dispomos a enfrentar o aprendizado do AMOR."(Lenda narrada pelo escritor amaricano Walter Trobisch,em seu livro "Amor, sentimento a ser aprendido")

Tuesday, April 25, 2006

UNA ESPECIE DE LUZ

¿Qué es lo que amo, cuando amo a Dios?
No una belleza corpórea, ni una armonía temporal, ni el brillo de la luz, tan apreciada por estos ojos míos; ni las dulces melodías y variaciones tonales del canto ni la fragancia de las flores, de los ungüentos y de los aromas, ni el maná ni la miel, ni los miembros atrayentes a los abrazos de la carne.
Nada de esto amo cuando amo a mi Dios.
Y, sin embargo, amo una especie de luz y una especie de voz, y una especie de olor, y una especie de comida, y una especie de abrazo cuando amo a mi Dios, que es luz, voz, fragancia, comida y abrazo de mi hombre interior. Aquí resplandece ante mi alma una luz que no está circunscrita por el espacio; resuena lo que no arrastra consigo el tiempo; exhala sus perfumes lo que no se lleva el viento; se saborea lo que la voracidad no desgasta; queda profundamente inserto lo que la saciedad no puede extirpar.
Esto es lo que amo cuando amo a mi Dios.
SAN AGUSTIN

Wednesday, April 19, 2006

SUTRA DOS MISTÉRIOS MAGNÍFICOS

Sem o vazio, não há forma. Sem forma, não há o vazio. É como a lua e o brilho da lua — do princípio ao fim, ambos são indissociáveis.

ÁRVORE


Pense numa árvore. Ao pensar nela, você tende a pensar num objeto distintamente definido; e num certo nível [...] é isso mesmo. Mas quando você olha mais de perto para a árvore, percebe que em última análise ela não tem existência independente. Ao contemplá-la, verá que ela se dissolve numa rede extremamente sutil de relações que se estende por todo o universo. A chuva que cai em suas folhas, o vento que a balança, a terra que a alimenta e sustenta, todas as estações e o tempo, o luar, a luz das estrelas e o sol — tudo isso é parte dessa árvore. À medida que você começa a pensar mais e mais sobre a árvore, descobre que tudo no universo ajuda a fazer parte dela o que é; que ela não pode em momento algum ser separada de qualquer outra coisa; e que é o significado que queremos dar quando dizemos que as coisas são vazias, que não têm existência independente.
(Sogyal Rinpoche, O Livro Tibetano da vida e da morte)

Friday, April 14, 2006

TAO













Rising and Passing
Creationa and Annihilation,
Birth and Death,
Joy and Grief,
They are meshed in one another-
Goethe

Sunday, April 09, 2006

...















Sem começo, sem fim Sem passado, sem futuro. Um clarão de luz circunda o mundo do espírito.Esquecemo-nos uns dos outros, puros, silenciosos, vazios e onipotentes. O vazio é atravessado pelo brilho do coração celeste.Lisa é a água do mar e a lua se espelha em sua superfície.Apagam-se as nuvens do espaço azul; lúcidas cintilam as montanhas. A consciência se dissolve em contemplação.Solitário, repousa o disco da lua.
(Hui Ming Ging, O livro da Consciência e da Vida - 1729)

MANDALA











Do sânscrito, centro, círculo ou círculo mágico, é um instrumento de contemplação, meditação, concentração e relaxamento. Representa o mapa do cosmos, a projeção geométrica do mundo reduzida a uma amostra essencial, totalizante, o todo organizado de cujo centro flui a energia integradora. A Mandala é um objeto com função lúdica-terapêutica. Um jogo sensual sem objetivo explícito. Seus múltiplos movimentos estimulam a motricidade, enquanto revelam imagens da organização interior da pessoa, consciente ou inconscientemente. A Mandala abstrai do caótico mundo exterior, ao concentrar a imaginação num objeto que nada exige das habilidades intelectuais e que responde à ansiedade gerada pelo consumo e desperdício tecnológico com a sabedoria do singelo e original. As mandalas e sua composição fascinam pela magia de seus movimentos. São exemplos e símbolos destinados a exprimir as possibilidades infinitas do subconsciente humano. Originadas na Índia, porém foi no Tibet onde a mandala alcançou seu mais pleno e complexo desenvolvimento tanto artístico como ritual meditativo, enfatizando a integração cósmica. Richard Wilhelm, recopilador do livro "I Ching, o livro das mutações" estudou o papel das Mandalas nas diferentes culturas hindú, tibetana, budista, cristã (até princípios da idade média), esotéricas, etc. O psicólogo suíço Carl G. Jung aprofundou os estudos de Wilhelm, descobrindo que seus pacientes melhoravam ou se tranqüilizavam usando a Mandala. Antigamente os grandes mestres desenhavam Mandalas na terra e mais tarde em panos com complicados desenhos e cores, frente às quais meditavam seus discípulos, na procura do seu próprio caminho espiritual, sua iluminação ou nirvana.Também era usada em processos de cura, com a pessoa no centro da Mandala. O casal José e Míriam Argüelles, que depois de Jung foram os maiores pesquisadores e estudiosos da Mandala, consideram que é um instrumento básico para a segunda e maior fase de crescimento do ser humano; aquela que inicia quando os fundamentos do crescimento físico "cessam" (aproximadamente aos 25 anos); quando começa o desenvolvimento e coordenação das capacidades mais intuitivas. Enfatizam que a meta é atingir com o seu uso, o maior grau de integração com o Todo e sentir o impulso em direção a Totalidade. Esse impulso, motivará seus pensamentos, passará para suas atividades e estará vivo em tudo que constrói. E aí um estágio sagrado de consciência será atingido no qual todos os seres e todas as coisas serão consideradas como emanações da Unidade Divina Total.
(não recordo o autor...)

Wednesday, March 29, 2006

A interpretaçao de lilith


"Durante meus anos de prática astrológica, tenho utilizado a Lua Negra em todas as minhas análises de mapas natais, como complemento da interpretação da Lua. Jamais pensei em ignorar esta influência. A Lua Negra descreve nosso relacionamento com o Absoluto, com o sacrifício como tal, e mostra-nos como abrimos mão de certas coisas. Em trânsito, a Lua Negra indica-nos alguma forma de castração ou frustração, freqüentemente nos assuntos relacionados ao desejo; uma incapacidade da psique; ou uma inibição em geral. Por outro lado também indica nossas áreas de autoquestionamento, a nossa vida, nossos trabalhos, nossas crenças. Acho que é isto é importante, pois nos dá a oportunidade de abrir mão de algo. A Lua Negra mostra onde podemos deixar que a Totalidade fale dentro de nós, sem atravessar um “eu” pelo caminho, sem erigir um muro formado pelo nosso ego. Ao mesmo tempo, ela não nos indica a passividade. Ao contrário, simboliza a firme vontade de mantermo-nos abertos e confiantes, de deixar que o Mundo Transcendental infiltre-se em nós, confiando inteiramente nas grandes leis do Universo, naquilo que chamamos Deus. A fim de nos preparar para essa abertura, a Lua Negra cria um vazio necessário." (Joëlle de Gravelaine in "Lilith und das Loslassen", Astrologie Heute Nr. 23)

Saturday, March 18, 2006

DO OUTRO LADO DO RIO





— Ei, senhor.
Sentado na popa de sua canoa, um remador fazia-me sinais há algum tempo.
— Ei.
— Quer atravessar?
— Não sei ainda. Mais tarde.
— O outro lado do rio é bonito.
— É bonito ou está bonito?
Ele não entendeu, ou então não quis estabelecer diferença. Para que? Miudezas. Olhava-me com ar absorto e com a paciência de quem lida com viajantes indecisos. Vi que uma barba rala e alourada cobria-lhe o rosto, e que tinha o nariz curvo. A cabeça encoberta por um chapéu de palha mostrava apenas a sombra dos olhos. Visto de perfil, parecia velho, mas ainda robusto, e com um jeito afiado de ave de rapina pousada num galho.
Continuei a olhar o rio, que parecia estancado, sem correnteza, mas movimentava de leve as águas, de forma a escorrer de forma quase imperceptível. A água não estava escura ou baça, nem clara. Parecia água nova, trazida das cabeceiras onde decerto chovera. Mas não estava barrenta. Mesmo sem transparência, transmitia uma superfície de espelho.
— Está assim há dias — disse o remador.
— O quê?
— A água do rio. Costuma ser clara, fina. Choveu, o leito subiu e a correnteza parou.
— O senhor é canoeiro há muito tempo?
— Desde menino.
Puxou mais o chapéu sobre os olhos, como a proteger-se de uma luz cegante, e recordou que, antes da ponte, a travessia era feita em canoas chamadas besouros. Alongadas, com duas tábuas atravessadas à guisa de bancos, algumas tinham motor de popa. O motor chiava, por isso deram-lhes o nome de besouros. Atravessava-se o rio recebendo na roupa salpicos de água. Às vezes a superfície do rio rolava grossa, como um tapete sujo a distender-se, e nesse caso as canoas oscilavam, emborcavam. Quem não soubesse nadar, afogava-se.
— O senhor socorreu algum viajante?
— Não fui feito para essas coisas — respondeu em tom seco.
O sol voltara a luzir por entre gotículas da água suspensas. Um arco-íris foi-se delineando do outro lado do rio, ao longo da encosta verdejante que cobria o litoral. Em baixo, numa enseada indistinta, os pilares da ponte. Não se via movimento na ponte, talvez por causa da distância. Apurei os olhos. Nada, sequer um vulto, nenhum automóvel.
— Ninguém atravessa pela ponte? — arrisquei.
— É uma travessia muito direta, que depende da vontade de cada um. No fundo, meu senhor, ninguém gosta de atravessar.
Não entendi então porque as autoridades mandaram construir a ponte, e porque, havendo ponte, canoas e barqueiros ainda aguardassem viajantes fortuitos.
— Há dois caminhos — o remador voltou a falar, como se me adivinhasse os pensamentos. — As pessoas preferem vir para cá, como se não esperassem encontrar este cais antigo, estas canoas, esta solidão. Chegam e, então, já que aqui se encontram, atravessam. O caminho da ponte é uma escolha deliberada, como eu já lhe disse.
Cala-se, olha o marulhar das águas no casco da canoa. O sol aumenta de intensidade, vejo que o arco-íris do outro lado se vai dissipando. Mas a água nada reflete, é um espelho embaciado.
— Deve ser bonito do outro lado — eu digo.
O remador se agita, seus olhos faíscam sob a aba do chapéu.
— Pode ter certeza, senhor. É um espetáculo.
Um espetáculo. Fico a saborear esta palavra, como quem a mastiga. E, estendendo a vista até o outro lado, encho os olhos com uma encosta ligeiramente escarpada. Está verde, varrida pelo sol, e brilha, brilha como se fosse um vitral do qual se coassem muitas cores, as cores do arco-íris, o verde e o amarelo em predomínio. Um bosque extenso e profundo, sem clareiras, de árvores irmanadas que devem formar uma alfombra com a sua copa generosa. No chão, naturalmente folhas secas, imagino que folhas outonais, ferrugentas, a formarem tapete macio. Olhos d´água, troncos secos que se oferecem como bancos, pedras limosas em que descansar os olhos, lagos de água límpida. E suponho que frutos. O vento espalha a fragrância de suas polpas, o odor de seus líquidos. É, o remador tem razão, deve ser convidativo o outro lado. Deve ser bom.
— Muitos viajantes não voltam para o continente — diz o remador. — Preferem ficar naquela ilha comprida. Alguns pedem que eu espere, querem dar um passeio pelas praias desertas e limpas, querem sentir o perfume das trilhas, saber se vão dar em uma aldeia. Outros mais decididos vão logo dizendo, antes que eu encoste a canoa: ”Não me espere, remador. Eu vou ficar”. Estou acostumado a todas as reações. Sou observador, entende?
Sei que é. Ele se antecipa aos meus pensamentos, adivinha o desenrolar lento das minhas idéias. Um interlocutor desses, eu penso, é um bem na vida. Em geral não nos ouvem. As pessoas fingem escutar, mas em verdade escutam a si próprias, e o fazem por educação, a pensar no que vão dizer, no que desejam ouvir, ou no que pretendem induzir o outro a dizer para que tenham afinal a confirmação da resposta. Ah, é preciso saber escutar, é preciso saber ter ouvidos e fazer com que eles se apurem para ouvir nos momentos certos. Aquele remador tem o instinto da conversa mútua, do diálogo. Com ele o monólogo da vida cessaria, a trituração interior que gera angústias se desfaria em pó com que aspergir e esconjurar todos os nossos espaços vagos.
— A ilha tem nome?
— Não. É apenas o Outro Lado.
— O Outro Lado?
— Sim, senhor. O Outro Lado do Rio.
Duas touceiras de erva sumarenta, muito verde, desciam pelo rio, vagarosas. Sem correnteza levariam horas a chegar a alguma praia, porque os rios sempre despejam suas águas no mar, em outro rio ou num lago. Há sempre uma praia, haverá sempre uma margem em que naufragar ou secar ao sol.
— Baronesas — diz o barqueiro.
— Têm um ar distinto.
— E cobras dentro das touceiras — prossegue o barqueiro. Vira-se, dá uma cusparada no rio. A voz trai um tom de desgosto. Olha as baronesas arrancadas de barrancos, rio acima, na estação das chuvas, e completa: — Vai ser uma longa viagem.
— A não ser que vente — eu digo.
— É, a menos que venha vento forte.
— Acha que vai ventar?
— Não. Hoje o dia escurece cedo, mas sem chuva e sem vento.
— Tem certeza?
— Tenho. É a experiência. O cheiro do vento a gente pega no ar.
Dou alguns passos pela margem de terra nua, sem ervas, com pedregulhos. Ninguém mais, somente eu e o canoeiro, que, com sua calma, parece estar ali à minha espera. Melhor, à minha disposição. O tempo não o incomoda, é como se ele tivesse todo o tempo de uma vida galática, de uma eternidade. Não sou dado a enigmas, mas de súbito me vem a impressão de que marcamos um encontro ali naquela margem deserta, e que ele está ali com a sua canoa para me prestar um serviço, para levar-me à outra margem. Mas como saberia que eu, nas minhas andanças às vezes sem rumo, contemplativo, imerso em meditações, iria dar ali, naquele antigo cais de um tempo em que havia uma chusma de canoeiros e viajantes ávidos por escarpas verdes do outro lado do rio turvo?
— Está com medo? —pergunta o canoeiro.
— Medo? De que? De quem?
— Não sei. Talvez medo do senhor mesmo. Ou de mim.
— O senhor não me fez mal.
— Nem farei. Estou aqui somente para levá-lo, se quiser atravessar. Se sentir que chegou a sua hora de atravessar.
— Como vou saber? Nunca tenho certeza de nada. Certeza somente a de estar vivo
— Ainda bem. Tem pelo menos esta, que explica o medo.
— Como assim?
— O senhor sabe que está vivo e isso lhe dá medo. Estar vivo é bom, mas o bem não dura. Nada na vida está em repouso permanente, nem mesmo as pedras, que um dia se transformam em pó.
— E qual seria o estado perfeito, o bem-estar supremo?
— O não-ser. Aquela noite escura, de uma escuridão total, sem desejos, sem necessidades.
— Uhm... Alguém já disse isso com outras palavras. Creio que foi Schopenhauer, um filósofo pessimista. Não se deve temer o não-ser, porque dele viemos. Ao existir, vemos então que o não-ser tem suas vantagens. Estar vivo é um problema. A vida seria, nesse caso, o medo crescente de algo melhor. Estou certo?
— Para mim, está. O maior sinal de cultura consiste em perder o medo. É preciso atravessar, atravessar sempre.
Começo a examinar melhor o remador. Humilde, mal vestido, pés no chão, e, no entanto, idéias profundas. Quem o teria ensinado a filosofar? Quem o teria aproximado de mistérios?
Do outro lado do rio o litoral escarpado adquire uma tonalidade enfermiça de poente. Cores desmaiadas, com a luminosidade mortiça de velas. Mas seriam muitas velas juntas, e todas acesas, e por isso ali não se fazia noite, a luz resistia às trevas, tangia a noite, que já começava a tombar, para o lado de cá, onde estávamos o remador e eu. E a noite, desdobrando a sua capa sobre o rio, enlutava definitivamente os restos de um dia a apagar-se.
O remador protege o pescoço com a gola aberta do casaco. Dou um passo hesitante, talvez movido pela necessidade de fazer um movimento, na direção da canoa. Ainda não sei se vou atravessar o rio.
— Resolveu atravessar ? — pergunta o remador, com um, sorriso que me parece irônico.
— Acho que sim. Afinal, do outro lado há luz.
— Os poentes são sempre longos na Ilha do Outro Lado.
Sento-me na tábua do meio da canoa. O remador entra na água rasa e dirige-se à margem. Com certeza vai impelir a canoa para longe da areia, para o fundo, antes de tomar do remo e iniciar a travessia.
A noite cai depressa, como se alguém no alto soltasse as dobras de uma cortina escura. A canoa oscila, a água bate nos costados e na proa, em baques fofos, um vento morno, com um toque de frio, me percorre o corpo, deixa uma sensação de carícia. As mãos coçam. Estão ocupadas com o remo, na verdade empunham o remo, sou eu, afinal, quem rema nesta canoa — o único a remar. O canoeiro ficou em terra, seu perfil recurvo absorvido pelo silêncio, pelas trevas.
Eu remo de coração leve para o âmago da noite ou para o facho de luz, não sei bem. A luz que me parecia brotar da Ilha do Outro Lado brilha agora no antigo cais onde embarquei. E as trevas do velho cais caem sobre a Ilha, lhe acentuam a silhueta esguia.
Para onde vou? Perdi a minha última certeza. Sei apenas que é preciso remar. Devo estar no meio do rio, o medo vem de novo e me sufoca o peito. Ignoro qual a margem certa, não sei mais como voltar nem aonde ir. Estou remando para a noite definitiva ou para o lívido alvorecer?(Do livro Contos da Noite Fechada, 2004)

Tuesday, February 28, 2006

NETZACH

Da mesma forma que Hod significa o mental e a forma que se dá ao plano intelectual, Netzach representa os instintos e as emoções. Esta séfira trata do plano emocional e instintivo. Em Netzach tudo é mais "percebido" do que intelectualizado. Mas as atividades de Netzach não podem ser separadas de Hod. As duas séfiras formam um par funcional. Poderíamos dizer que os dois verbos mais adequados para as duas séfiras seriam: pensar (Hod) e sentir (Netzach).Compreenderemos Netzach se entendermos que é nessa esfera que se trabalha e se integra toda a nossa afetividade e os nossos instintos. Enquanto Hod intelectualiza, Netzach sente e percebe. Enquanto Hod é ligado à palavra escrita e falada, portanto aos comunicadores: escritores e oradores, Netzach é associada aos pintores, músicos e poetas. Quando falamos de Amor, sensibilidade e emoção, estamos atuando em Netzach. Nas antigas civilizações eram incluídas em Netzach todas as atividades onde entra o Afeto, seja a camaradagem entre os guerreiros, seja o relacionamento entre professor e aluno, seja o amor entre um homem e uma mulher. No cumprimento da função sexual, várias séfiras entram em ação. Em Netzach há o relacionamento e interação sutil da força vital entre dois fatores: fluxo e refluxo, estímulo e reação, mas ultrapassando e muito a esfera do sexo. Ela atua também em outros níveis de consciência. Através de um sutil magnetismo, inspira a mente, e a mente dirige as emoções. As emoções, por sua vez, assumem a atividade do duplo etéreo, que por sua vez atua no veículo físico. A tríade formada por Yesod, Hod e Netzach, unem a criação, mente e coração (Emoção).

Tuesday, February 21, 2006

criador-criação-criatura


Acerca da ilusão sobre a natureza das coisas


"Do ponto de vista teológico, e cingindo-nos à dogmática católica, a Criação é entendida como um acto divino que, não contando com qualquer forma preexistente de matéria, se efectivou a partir do nada absoluto. A este respeito, a doutrina distingue três aspectos, que são: “Criação primeira e imediata” - Deus produziu a matéria de que se compõem todas as coisas; “Criação segunda e mediata” – Deus organizou a matéria e formou todos os seres; “Criação contínua”- Deus conserva o Mundo e concede-lhe a existência a cada momento.
Esta concepção, constitui uma excepção, introduzida pela tradição espiritual hebraica, nas doutrinas da antiguidade, fundamentalmente distribuídas por duas linhas: a dualista, segundo a qual Deus teria feito o Mundo de uma matéria preexistente e a panteísta, em que o Mundo se apresenta como uma manifestação da natureza e substância divinas.
Assim, os doutores da Igreja afirmam que o acto criador é eterno nos seus princípios embora, nos seus efeitos – o conjunto das criaturas – ele esteja submetido à lei do Tempo.
Tal distinção remete-nos, de pronto, para a polaridade estabelecida entre Criador e criatura, sendo que de Um se pode dizer que actuou, actua e actuará na esfera dos princípios, que se caracteriza pela eternidade e da outra, que actuou e actua no Mundo dos efeitos, submetido à regra do Tempo.
Entre muitas outras, esta razão bastará para estabelecer a diferença de natureza entre O Criador e a criatura, ou entre a Criação como causa absoluta e transcendente e os efeitos que dela provêm, na forma do Mundo criado. Do Criador pode dizer-se que É e, da criatura, simplesmente que existe. O acto criador foi único porque instantâneo, já que instante e eternidade são a mesma coisa, quando e onde a lei do Tempo não tem lugar. Os “dias” da Criação não correspondem a qualquer cronologia, eles são o modo de encadear, em termos meramente lógicos, consequências instantâneas de um acto, ele próprio instantâneo, na sua eternidade.


O uso e abuso da palavra, conduz inexoravelmente à perda do seu real significado, que está na origem da formação de todos os vocábulos; por isso e em verdade, nenhuma criatura pode, pela sua própria natureza, ser simultaneamente “criador” do que quer que seja. Como bem se viu, e do ponto de vista doutrinário que defendemos, o Criador obrou a partir do nada absoluto, enquanto a criatura terá forçosamente que obrar a partir de um Mundo preexistente, esse mesmo em que ela se insere e do qual é parte integrante.
Expressões como “criadores” de galinhas, às quais chamam a sua “criação”, ou os “criados” da casa, porque nela nasceram e cresceram, não passam de termos correntes, de que percebemos o sentido, mas cujo uso inadequado banaliza uma concepção espiritual constituída como eixo da toda a realidade manifestada. A indústria de avicultura, independentemente das manipulações químicas ou genéticas, continua sem poder produzir frangos do nada, do mesmo modo, uma casa pode ter muitos “criados” que nenhum deles, certamente, nasceu sem progenitores, ainda que gerado in vitro , ou sem matéria preexistente, em caso de clonagem.
Evidentemente, todo o nascimento corresponde ao modo de “Criação contínua”, conforme anteriormente ficou definido; no entanto, tal facto não confere a quem controla os nascimentos a qualidade de "criador", qualidade essa, que nem os próprios progenitores do nascituro podem reivindicar.
Mas não só. Por vezes ouvem-se afirmações como por exemplo: “os cães criam pulgas”. E, neste caso, os próprios canídeos saem da sua humilde condição, para se tornarem, eles também, “criadores”, quando, na verdade, não fazem mais do que proporcionar aos desagradáveis parasitas um meio propício à sua proliferação.
E que dizer da tão vulgarmente celebrada “criação” artística? O modo penoso como a espécie dos mamíferos desenvolveu um aparelho auditivo que permitisse ao homem o acesso a uma subtil diferenciação de sons; a lentidão desesperante como evoluíram os instrumentos musicais até se chegar à grande orquestra; a remota origem das técnicas instrumentais, tonais, de contraponto, etc; nada disso parece contar como matéria preexistente, quando um músico oitocentista compõe uma bela sinfonia e, por isso, só por isso, tem honras de “criador”.
Igualmente, nas artes visuais, todo o lento labor para a sujeição da matéria informe à ideia humana parece irrelevante, como antecedente condicionante, frente à súbita irrupção de um inspirado tido como “criador”, como se ele fosse o autor de todos os antecedentes ao eclodir da sua obra – o que, mesmo a verificar-se, não bastaria para fazer dele um Criador - ou tivesse alcançado resultados a partir de nada.
Particularmente caricata é a designação de “criador de moda” e isto porque se aplica uma ideia de eternidade, a Criação, ao artefacto humano mais sujeito à corrupção do Tempo.


A inspiração dos autores, fenómeno a que a moderna teoria de Arte é alheia ou simplesmente omissa, constitui, provavelmente, um dos temas que, passando pela atribuição de genialidade ao inspirado, conduz à ideia da “criação” artística, na convicção de que algo de radicalmente novo foi obtido, constituindo um valor acrescido, no conjunto da obra humana.
Não cabendo aqui desenvolver o tema da inspiração artística, convém, no entanto atender ao seu sentido e significado. Esta ideia da inspiração artística provem da cultura clássica; segundo ela, as Musas produziam um estímulo subtil, na consciência mais profunda do artista, e este absorvia-o, como se inalasse um perfume, ou inspirasse uma sugestão. A obra que daí surgia e que era o resultado material de um autor humano, não deixava por isso de ter uma outra autoria, mais alta, não material e não humana, já que fora gerada pela vontade divina e transmitida pelo lampejo inspirador das Musas. Na verdade, segundo o Génesis mosaico, o Homem não tinha por tarefa sagrada criar o Jardim do Éden, mas apenas cuidar dele, inspirado pela vontade divina.
Outra questão que frequentemente configura, de modo ilusório, a noção de criação artística é a ideia de originalidade, associada aos conceitos do inédito radical, do inteiramente novo. No que respeita às novidades é sempre necessário lembrar que a realidade é muito mais exígua do que as modernas ideias de infinitude e de quantidade, podem fazer parecer.
Com efeito, a realidade “move-se” num quadro de possibilidades mais ou menos restrito e hermético, já que, desde a Criação, nenhuma nova possibilidade pode ser adicionada às que foram estabelecidas no próprio acto criador. No entanto, o número indefinido de possibilidades permite um número indeterminado de interacções, muitas delas susceptíveis de produzirem uma ilusão de novidade absoluta; e dizemos absoluta porque, algumas interacções, tendo aparecido pela primeira vez num tempo histórico, constituem, em determinado grau e nesse tempo, uma novidade.
Os resultados das interacções entre vários elementos da realidade conduzem invariavelmente ao produto das partes que os compõem e, de modo algum, a novas partes ou novos produtos.
Os resultados de uma Arte vivendo na procura obsessiva da originalidade, num mundo marcado pelo fastio permanente, conduzem todo o processo artístico ao seu ponto de partida, do mesmo modo que o penedo de Sísifo resvalava sistematicamente para o seu lugar original. Nada há de novo. No palco da realidade representa-se uma única peça, variando apenas cenários e guarda-roupa. O único encanto é que a representação seja boa. "
Carcavelos, Janeiro de 2001.
Carlos Dugos

Friday, February 17, 2006

PRECE JUDAICA




"Guia-me luz gentil,
Através das trevas circundantes.
Guia-me em frente.
Escura é a noite e estou longe da luz.
Guia os meus passos pois não peço para ver o futuro distante,
Um passo só me basta.
Enquanto o teu poder me abençoar,
Guia-me através de penhascos e atoleiros.
Até que ao alvorecer me sorriam os anjos,
Que há tanto tempo amei e depois perdi."

Saturday, February 11, 2006

TEUS OLHOS COR DE MEL



Das palavras que trazes afogadas,
Das tuas mãos de flor, olhos de mel,
Dos teus cabelos lisos as cores das madrugadas.

A tua joia cintilante são os doentes.
Do teu andar vem a fúria bater-te.
Dos teus gestos que fazes sentes.

Onde estivermos há-de estar o vento.
Nú na chuva e no fogo.
Herois castrados e malditos, combatemos.

Todos sofremos,
Os estilhaços dos ferros ocultos
O mesmo sal que foi feito do mesmo sangue,
E todos dormimos como putos.
E na chama das nossas mesas esqueçemos.

Tu me dirás, flor que nós existimos.
Tu me dirás, flor que nascemos das árvores.
Que viémos, amámos e partimos

No teu perfume raro nasce a palavra do nada.
Tu que me dizes flor, e no vento sorrimos
A esta semente selvagem.
E no silêncio canto a dureza da montanha de lava.

Penso no colar das tuas horas.
E o casulo, também o teu encanto
E no colo do meu silêncio tu choras.

Volta outra vez ao mundo para eu poder dormir.
Devoro as minhas lágrimas e o medo,
Enquanto a fome me doi.
Volta outra vez ao mundo para tu sorrires.

Teus olhos de boa artesã,
Eu poeta das cores
Tu flor a esperança do amanhã.

Morro aos poucos de ternura,
E a minha aventura o caldo da minha infância,
Certo é os teus olhos são a tua cura.

Neste social baile dos malditos,
Pareces estar tão longe e estás tão perto.
Forjo as cores e as formas num silêncio de gritos.José Pires

Sunday, February 05, 2006

PRECE


Concedei-me Senhor Serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, Coragem para modificar aquelas que eu posso e Sabedoria para distinguir umas das outras.

Saturday, February 04, 2006

CAMINHOS














(...)"Eu não acredito na imortalidade de coisa alguma; e embora um poema deva valer por si próprio, como obra independente do autor e da sequência da criação a que este foi dando, eu todavia penso que é mais importante, humanamente, o espírito de peregrinar que o facto conclusivo de haver visitado lugares santos. Na peregrinação, que é a nossa vida, muito mais somos visitados do que visitamos. Diário íntimo ou fastos espiritualmente autobiográficos – a poesia é mais do que isso. A co-responsabilidade do tempo e nossa, que é a única garantia de uma autenticidade - pois que será esta senão a busca de uma verdade que está para lá da actividade estética , e que a actividade estética não tem por fim achar, mas testemunhar que insatisfeitamente ela é buscada? -, ultrapassa precisamente o solipsismo inerente mesmo à mais convincente das criações poéticas , e concede à poesia uma paradoxal objectividade que as fabricações da perfeição artista são incapazes de atingir, por demasiado dependentes do gosto, quando o testemunho vale pela reflectida espontaneidade que apela e apelará sempre para a comunhão de todos os inquietos, todos os insatisfeitos, todos os que exigem do mundo, para os outros, a generosidade que lhes foi negada."Jorge de Sena

CRIAR OU REPETIR













ÉS CRIADOR OU REPETIDOR?
de Luís Martins Simões, da Editora Angelorum Novalis

O ser humano não cresce quando repete. Só cresce quando utiliza o seu poder criador.Há muitos anos que vamos repetindo o passado e tentando melhorá-lo no futuro. E não resulta.No entanto, no ensino, nas escolas, no teu quotidiano, ensinam-te a repetir e verificam se repetes bem.A evolução humana nunca se coadunou com repetição. O ensino é uma repetição, a vida quotidiana é uma repetição, a vida com os amigos é repetição, a vida em família é repetição, as religiões são repetição.E o mundo não funciona.Este livro ajuda-te a perceber de onde vem o teu poder criador e a descobrir como utilizá-lo.Muitos não sabem, mas temos todos a opção de viver a nossa vida como repetidores ou como criadores.

Friday, February 03, 2006



"Hordas de brutos tentam tomar de assalto o templo sagrado da Espiritualidade. São estupradores emocionais, que querem arrombar a porta dos arcanos celestes, mas sem possuírem as credenciais de paz e luz em seus anseios violentos. Não possuem os pré-requisitos básicos para as empreitadas na luz superior. São brutais no assédio, mas fracos de espírito por dentro. Almejam o poder, não a sabedoria.O mundo está cheio dessas hordas de brutos confusos, e o amor passa longe de seus corações. A Grande Luz é generosa, mas conhece os segredos e as intenções de todos. Por isso o acesso aos portais espirituais, que levam aos planos superiores, só é permitido àqueles que apresentarem as condições luminosas compatíveis com os objetivos colimados.“Quem quer mais luz, que apresente luz em seu serviço e em seus objetivos”

REDENÇÃO




















Ergue-te Gigante - Empunha o facho.
É tempo de o Mundo iluminares.
Chega de trevas. Abaixo a rebeldia
Que Te lançou em cadeias milenares.
Serpente antiga - Dragão misterioso
Expulso do trono que traíste.
É tempo de voltares às estrelas
Reocupando o lugar donde saíste.
Olha o Firmamento, a Via-Láctea,
E verás ali o Teu lugar primeiro,
Escuro, sombrio como silício,
Saco de Carvão, junto ao Cruzeiro.
Naquela cruz celeste das estrelas
O Teu bendito Irmão crucificado
Verás, sangrento, sofredor cativo,
Para arrancar-te à senda do pecado.
Empunha o facho e vem,
O Teu trono está limpo e redimido
A espera de Ti para reinares
Sobre um Mundo que por Ti foi corrompido.
É tua vez agora de apagar
O incêndio que no Mundo começaste,
É tua vez agora de colher
A semente que no Mundo semeaste.
Redimido estás, volta a brilhar
Luciferina chama os Céus Te esperam
Anjo da Luz! Retoma o facho!
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Santarém, janeiro de 1955
Eymar Franco
Dhâranâ 11/12, 1956

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