Wednesday, October 04, 2006

“Deus aspira a que o deixem em descanso, a que não digam nada sobre ele, a que não discutam se existe se não existe, se mais vale pelo amor ou pela acção, como se importasse alguma coisa a Deus amar ou agir (…) Diria então que um Deus não surpreendido no seu acto de manipular, ou não manipulado, seria essencialmente um Deus que se esconde. Não podia dizer nada sobre ele, nem de bem nem de mal, não lhe fixaria nenhum atributo, pois que os atributos que pregamos em Deus são apenas os rótulos de preço, preparação de uma venda de Deus a nós próprios e aos outros; quem não precisa de dinheiro, vendendo-se, forma habitual de se conseguirem recursos, ou vendendo, não põe etiquetas em Deus; conserva-o limpo e, por intrínseco, esquecido, ou escondido a seus olhos, ou aos olhos alheios e não apenas olhem, os meus, o mundo, a que, por fantasia, empresto olhos idênticos aos meus. Deus se esconderia, Deus está oculto, de Deus, ao a quem não rezo, nada posso dizer; do outro, daquele a quem rezo, todo eu sou palavras”.
(Agostinho da Silva, “Ir à Índia Sem Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos”, 3, 1, edição da Assírio & Alvim, Lisboa, 1994)

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